30 de setembro de 2010

fim...


Não aguento mais esse lance de arte pela arte.
Já não sei o que é moderno e o que é da antiguidade.
Divido-me entre a matriz e uma tal de densidade...
Aguenta, ó meu nariz, te preciso pra mais tarde!
É a vida...
Cansei dessa história repetida, baboseira infinita.
A história da sua vida até parece a Roda Viva:
Leva tudo, até o que nem se cultiva.
E ainda há lugar pra teoria evolutiva!
É a prova, é Geometria...
“É a lenha, é o dia”
Quando tudo parece resolvido, nesse mundo tão corrido,
Aparecem as coisas que faz o tempo parecer perdido,
Programa mal desenvolvido, ‘briga entre partidos’...
'A lama da imprensa’,
“A diferença do que se pensa”,
A igualdade e escravidão
Aparece tudo junto, no mesmo refrão:
“Quem são eles? Quem eles pensam que são?”
Um barraco que desaba,
Um país que se acaba...
Já repleto de pobreza
Lidar ainda com a tristeza.
Algumas placas que se mexem,
Corações que se esquecem
“A vida anda ruim na aldeia...”
“Não faça cara feia de barriga cheia...”
“É hora de rever os planos...”
“Não precisamos saber pra onde vamos...”
“Em excesso até o fracasso faz sucesso por aí...”
“Te fazer me enxergar e se enxergar em mim... aqui...”
Olha aquela coisa mais linda,
Tão linda assim, nem mesmo a cor existe
E os seus olhos de menina...
É nesses olhos que se encontra um futuro jamais triste...
“E a gente vive assim:
Sempre acabando o que não tem fim!...”

24 de setembro de 2010

Das Eleições...

Ainda não tinha parado pra escrever exclusivamente sobre as eleições aqui no blog. Meio pela falta de tempo, meio por achar que tirar um tempinho do meu pouco tempo pra escrever sobre as eleições é algo recusável. Mas diante das tantas que tenho visto é o jeito escrever...

O que faz as eleições serem eleições é o baixo nível. Quando há cand
idatos que tenham ficha limpa e que tenham inúmeras qualidades, deve-se desconfiar. E não acontece diferente neste ano. O pário tá duro... Com certeza, a indecisão nunca foi tão certa. Os candidatos estão nos deixando mais em dúvida do que nunca, os debates nunca foram tão engraçados e a propaganda na televisão nunca foi tão difícil de assistir.

Eu sou um telespectador por natureza, mas, sinceramente, essa tá difícil. Tá difícil ver o Francisco Macêdo e o Levy Fidelix nos horários gratuitos e a Teresa Brito nos debates. Tá difícil até assistir telejornais, pois todo dia tem que aparecer o
Wilson Martins perdoando pecados, ou a Dilma (candidata que mais deu trabalho ao photoshop) dizendo que quer continuar o "projeto do Lula", ou o Heráclito Fortes esculhambando o Ciro Nogueira que parece que fala com medo da voz estourar nossos ouvidos. E ainda tem o Eymael (♫"Um democrata cristão.."♫)... Enfim, não dá pra ser politicamente correto e colocar o nome deles todos aqui.

Tava ali assistindo uma entrevista do Geraldo Carvalho no programa do Amadeu Campos (o programa que mais enche o saco com eleição) e eis aí mais uma coisa q
ue eu não aguento em todas as eleições. O PSTU que todo ano defende uma proposta socialista mas que sequer tem uma proposta governista. Agem como se mudar a estrutura social fosse resolver todos os problemas do planeta. É preciso ter a consciência de que se, algum dia, nós víssemos todos os problemas do mundo serem resolvidos ainda iria ter uma coisa errado: nós estaríamos vivos. Não estou aqui dizendo que o homem vivo é um problema, apenas que nós (vivos) trazemos os problemas.

E essa inconsistência na esquerda não me deixa feliz não. Apesar de não acreditar e não apoiar os movimentos socialistas (na verdade, não apoio nada), penso que é preciso haver uma esquerda sempre, que faça oposição sempre e que seja sempre responsável. A eleição de 2002 provou que "o poder é como violino. Toma-se com a esquerda e toca-se com a direita." (Esperidião Amim). Penso ser dispensável a explicação acerca disso. E é também em virtude disso minha oposição ao tão ideal, magistral e perfeito "projeto do companheiro" Lula.

Na contramão da continuação desse projeto, jamais votaria no Serra qu
e, sendo do PSDB (tendo sido do PMDB e da UNE), hoje defende até a "evolução" desse "projeto" (13º do Bolsa Família, parafraseando o craque Neto, "é brincadeira!!!") e que é, como diz Zózimo Tavares, antiecológico até no nome. Logo, também não votaria na Dilma, a mulher que eu não sei se é mulher do Lula ou se é mulher da Erenice Guerra. Pois é o "projeto do Lula" em forma de mulher, projeto esse que, até agora, no meu texto, esteve entre aspas por eu não considerá-lo projeto!

Ainda sobre os candidatos à presidência, tem a Marina Silva que, às vezes, parece não ter noção, como a quase totalidade dos seres humanos, da importância do que ela diz defender:o desenvolvimento sustentável, mas que falta, pelas propostas dela,
ser também responsável. O Plínio Arruda é o "cqc" dos candidatos. Quando o vejo calado tenho sempre a impressão de que ele tá perdendo os sinais vitais. O certo é que a única pessoa do PSOL que eu votaria, se candidato fosse, seria a Heloísa Helena. Por quê? Não sei... acho que de tanto ela dizer "vote cinquenta", na eleição passada!

Para os candidatos ao governo falta uma coisa só: vontade de ser governador. Mesma coisa que faltou ao Luís Inácio. Não tenho raiva dele por ele ter sido eleito e, depois de eleito, ter viajado a todos o lugares do mundo que eu também tenho vontade de viajar. Na realidade, não tenho nem raiva dele. Só não gosto do tanto que ele foi político e do tanto que ele não foi presidente nos últimos 7 anos e 9 meses.Tirando Wilson Martins, Major Avelar e o Francisco Macêdo, acho que todos dariam bons governadores (até o Romualdo Brazil), se assim quisessem. Os três primeiros lá, acho que seria impossível.

E, pra completar, dois fatos marcaram essa eleição: a Lourdes Melo metendo o pau nos juízes (coisa que todo mundo faz, mas que só ela teve coragem de fazer na frente deles) e o presidente do STF, ministro Cezar Peluso, ter dito "Meu voto não vale mais que nenhum dos outro juízes", quando perguntado se queria desempatar a votação que decidia sobre a aplicação da Lei da Ficha Limpa nessas eleições (resposta escape ou resposta honesta?)...

Então, na condição de não-eleitor (ainda), termino meu texto desejando a todos que tomem cuidado com as escolhas e que rezem muito pra que não seja preciso deixar de votar para que o voto não seja desperdiçado. Difícil! Mas é só difícil!


19 de setembro de 2010

Homilia na beatificação de John Henry Newman

“O coração fala ao coração”

BIRMINGHAM, domingo, 19 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a homilia que Bento XVI pronunciou hoje, ao presidir, no Wimblendon Park de Birmingham, a Celebração Eucarística de beatificação de John Henry Newman (1801-1890), cardeal e fundador dos oratórios de São Felipe Néri, na Inglaterra.

* * *

Queridos irmãos e irmãs em Cristo:

Estamos aqui em Birmingham em um dia realmente feliz. Em primeiro lugar, porque é o dia do Senhor, o domingo, dia em que o Senhor Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e transformou para sempre o curso da história humana, oferecendo vida e esperança a todos os que vivem na escuridão e nas sombras da morte. É a razão pela qual os cristãos do mundo inteiro se reúnem neste dia para louvar e dar graças a Deus pelas maravilhas que Ele fez por nós. Este domingo, em particular, representa também um momento significativo na vida da nação britânica, ao ser o dia escolhido para comemorar o 70º aniversário da Batalha da Inglaterra. Para mim, que estive entre os que viveram e sofreram os escuros dias do regime nazista na Alemanha, é profundamente comovente estar conosco nesta ocasião e poder recordar a tantos concidadãos vossos que sacrificaram suas vidas, resistindo com garra às forças desta ideologia demoníaca. Penso em particular na vizinha Coventry, que sofreu duríssimos bombardeios, com numerosas vítimas, em novembro de 1940. Setenta anos depois, recordamos com vergonha e horror o espantoso preço da morte e destruição que a guerra traz consigo; e renovamos nossa determinação de trabalhar pela paz e pela reconciliação, onde quer que ameace um conflito. Mas existe outra razão, mais alegre, pela qual este dia é especial para a Grã-Bretanha, para o centro da Inglaterra, para Birmingham. Este é o dia em que formalmente o cardeal John Henry Newman foi elevado aos altares e declarado beato.

Agradeço ao arcebispo Bernard Longley por seu cordial acolhimento ao começar a Missa nesta manhã. Agradeço a todos os que trabalharam tão duramente durante tantos anos na promoção da causa do cardeal Newman, incluindo os padres do Oratório de Birmingham e os membros da Família Espiritual Das Werk. E saúdo todos vós, que viestes de diferentes lugares da Grã-Bretanha, Irlanda e outros pontos mais distantes; obrigado pela vossa presença nesta celebração, na qual louvamos e damos glória a Deus pelas virtudes heroicas deste santo inglês.

A Inglaterra tem uma longa tradição de santos mártires, cujo valente testemunho sustentou e inspirou a comunidade católica local durante séculos. É justo e conveniente reconhecer hoje a santidade de um confessor, um filho desta nação que, ainda que não tenha sido chamado a derramar o sangue pelo Senhor, jamais se cansou de dar um testemunho eloquente d'Ele ao longo de uma vida entregue ao ministério sacerdotal, especialmente a pregar, lecionar e escrever. É digno de fazer parte da longa fila de santos e eruditos destas ilhas: São Beda, Santa Hilda, São Aelred, o beato Duns Scot, por nomear apenas alguns. No beato John Newman, esta tradição de delicada erudição, profunda sabedoria humana e amor intenso pelo Senhor deu grandes frutos, como sinal da presença constante do Espírito Santo no coração do povo de Deus, suscitando copiosos dons de santidade.

O lema do cardeal Newman, cor ad cor loquitur, "o coração fala ao coração", oferece-nos a perspectiva da sua compreensão da vida cristã como um chamado à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o coração de Deus. Recorda-nos que a fidelidade à oração vai nos transformando gradualmente em semelhança de Deus. Como escreveu em um dos seus muitos e belos sermões, "o hábito da oração, a prática de buscar Deus e o mundo invisível em cada momento, em cada lugar, em cada emergência... digo-vos que a oração tem o que se pode chamar de efeito natural na alma, espiritualizando-a e elevando-a. Um homem já não é o que era antes; gradualmente (...) se vê imbuído de uma série de ideias novas e se vê impregnado de princípios diferentes" (Sermões Paroquiais e Comuns, IV, 230-231). O Evangelho de hoje afirma que ninguém pode servir a dois senhores (cf. Lc 16, 13), e o Beato John Henry, em seus ensinamentos sobre a oração, esclarece como o fiel cristão toma partido por servir seu único e verdadeiro Mestre, que pede só para si nossa devoção incondicional (cf. Mt 23, 10). Newman nos ajuda a entender em que consiste isso para a nossa vida cotidiana: ele nos diz que nosso divino Mestre confiou uma tarefa específica a cada um de nós, um "serviço concreto", confiado de maneira única a cada pessoa concreta: "Tenho minha missão - escreve -, sou um elo na corrente, um vínculo de união entre pessoas. Ele não me criou para o nada. Farei o bem, farei seu trabalho; serei um anjo de paz, um pregador da verdade no lugar que me é próprio. (...) Se o fizer, eu me manterei em seus mandamentos e O servirei nas minhas tarefas" (Meditação e Devoção, 301-2).

O serviço concreto ao qual o beato John Henry foi chamado incluía a aplicação entusiasta da sua inteligência e sua prolífica caneta a muitas das mais urgentes "questões do dia". Suas intuições sobre a relação entre fé e razão, sobre o lugar vital da religião revelada na sociedade civilizada e sobre a necessidade de uma educação esmerada e ampla foram de grande importância, não somente para a Inglaterra vitoriana. Hoje também continuam inspirando e iluminando muitos no mundo inteiro. Eu gostaria de prestar uma homenagem especial à sua visão da educação, que fez tanto por formar o ethos, que é a força motriz das escolas e faculdades católicas atuais. Firmemente contrário a qualquer enfoque reducionista ou utilitarista, buscou condições educativas nas quais pudesse se unificar o esforço intelectual, a disciplina moral e o compromisso religioso. O projeto de fundar uma universidade católica na Irlanda lhe ofereceu a oportunidade de desenvolver suas ideias a respeito disso; e a coleção de discursos que publicou, com o título "A ideia de uma universidade" sustenta um ideal mediante o qual todos os que estão envolvidos na formação acadêmica podem continuar aprendendo. Mais ainda, que melhor meta podem ter os professores de religião que o famoso convite do beato John Henry sobre leigos inteligentes e bem formados? "Quero um laicado que não seja arrogante nem imprudente na hora de falar, nem alvorotado, mas homens que conheçam bem sua religião, que aprofundem nela, que saibam bem onde estão, que saibam o que têm e o que não têm; que conheçam seu credo a tal ponto, que possam prestar contas dele; que conheçam tão bem a história, que possam defendê-la" (A Posição Atual dos Católicos na Inglaterra, IX, 390). Hoje, quando o autor destas palavras foi elevado aos altares, peço que, por meio da sua intercessão e exemplo, todos os que trabalham no campo da educação e da catequese se inspirem com maior ardor na visão tão clara que ele nos deixou.

Ainda que a extensa produção literária sobre sua vida e obras prestou compreensivelmente maior atenção ao legado intelectual de John Henry Newman, nesta ocasião prefiro concluir com uma breve reflexão sobre sua vida sacerdotal, como pastor de almas. Sua visão do ministério pastoral sob o prisma do afeto e da humanidade está expresso de maneira maravilhosa em outro dos seus famosos sermões: "Se vossos sacerdotes fossem anjos, meus irmãos, eles não poderiam compartilhar convosco a dor, sintonizar convosco, não poderiam ter compaixão de vós, sentir ternura por vós e ser indulgentes convosco, como nós podemos; eles não poderiam ser nem modelos nem guias, e não teriam te levado do teu homem velho à vida nova, como eles, que vêm do nosso meio" (Homens, não anjos: os sacerdotes do Evangelho: discursos às congregações mistas, 3). Ele viveu profundamente esta visão tão humana do ministério sacerdotal, em seus desvelos pastorais pelo povo de Birmingham, durante os anos dedicados ao Oratório que ele mesmo fundou, visitando os doentes e os pobres, consolando os tristes ou atendendo os presos. Não é de surpreender que, ao morrer, milhares de pessoas se aglomeravam nas ruas enquanto seu corpo era transladado ao lugar da sua sepultura, a não mais que meia milha daqui; 120 anos depois, uma grande multidão se reuniu novamente para celebrar o reconhecimento eclesial solene da excepcional santidade deste pai de almas tão amado. Que melhor maneira de expressar nossa alegria deste momento que dirigindo-nos ao nosso Pai do céu com gratidão sincera, rezando com as mesmas palavras que o beato John Henry Newman colocou nos lábios do coro celestial dos anjos?

Praise to the Holiest in the height
And in the depth be praise;
In all his words most wonderful,
Most sure in all his ways!

("Seja louvado o Santíssimo no céu,

seja louvado no abismo;

em todas as suas palavras, o mais maravilhoso,

o mais seguro em todos os seus caminhos")

("O sonho de Gerontius")

[Tradução: Aline Banchieri]

10 de setembro de 2010


Estou na página 78 de um livro do Luis Fernando Verissimo depois de uma semana com ele (o livro) em minha casa. Isso é uma vergonha! Ter lido tão pouco não significa que o livro seja tão ruim. Significa ou que o poder de leitura do caboclo que o lê é ruim ou que o tempo desse caboclo é pouco. Meu caso é é o primeiro. Mas acho que neste caso cabe mais o segundo. Enfim... não vim falar de mim, nem falar de ninguém... não vim FALAR. Vim escrever...

Esses dias eu tenho pensado muito (♫"Tem dias que eu fico pensando na vida..."♫) sobre o humor. Meio em virtude do livro que venho aos muitos poucos lendo, meio em virtude do período eleitoral, meio em virtude do tempo em que vamos sobrevivendo. Tem me feito rir o modo com que o mundo está ultimamente. Não aquele cético "rir pra não chorar", mas o "rir pra não chorar" de quem ri com uma certa preocupação e com um certo medo.

Tem me amedrontado o descaso com a vida, com a natureza, com o ser... a omissão, a corrupção, a devassidão, a trivialidade e perca da sensibilidade dos homens. Fico com medo até do esquecimento das pessoas. Não de eu cair nesse esquecimento, mas o esquecer tão fácil das coisas maravilhosas e dos bens eternos que temos. Parece que a ressureição do filho de Deus não é mais do tamanho que tem que ser: infinita. Parece que não se acredita mais nessa ressureição. Estou com medo e admito isso porque sou errante. Se eu fosse sempre certo, não seria perfeito. O medo, o cansaço, a preguiça, a infantilidade, o pecado e todas as outras coisas que carrego junto de mim só se extinguirão quando, pela graça de Deus, eu alcançar a vida eterna. Por isso tenho medo e não tenho medo de dizer que tenho medo.

Hoje, quando saio de casa, não sinto outro cheiro se não o de fumaça. Não sinto outra coisa se não confiança. Confiança de que esses males não me farão mal algum, pois o único mal que podem me fazer é o de perder a fé, e esse é um mal que não me assusta. Não que não seja possível eu perder a minha fé (e não é possível, mas digamos que fosse...), mas mesmo que eu a perdesse eu teria o amor e a esperança, ou seja, continuaria tendo fé.

Os males são inúmeros: a sujeira das ruas e a sujeira daquelas pessoas que apontam a sujeira dos outros; a sujeira do ar e o ar fétido e imundo dos corações ambiciosos e invejosos que sofrem em todo lugar; a sujeira dos ouvidos que não sabem ouvir e das bocas que não sabem calar-se; a sujeira das mentes que cogitam mundos, planejam futuros, constroem vidas, mas que não são capazes de viver o presente tampouco viver; a sujeira dos dedos de quem rouba celulares, MP3 e relógios e a sujeira de quem rouba dignidade, de quem rouba a verdade, de quem rouba a liberdade...

Cada vez mais me vem a certeza de que o mundo é mais pessimista do que qualquer pessoa que se diga pessimista. O mundo é tão pessimista que ele nem percebe que é. Uso sempre "mundo" pra falar de pessoas. Mas pra falar das pessoas que se encacham nos releases de ignorância e de neurastenia presente no mundo atual. Pra falar das pessoas que são releases, apenas projetos, pedaços de seres humanos. E aí me pergunto: essas pessoas existem? Sempre que tento achar culpado lembro que achar culpado é demodé.

Aquele que rouba, rouba por necessidade. Aquele que faz o mal, faz o mal porque ninguém tem a capacidade de amá-lo e de ensiná-lo o que é amor. E os políticos? Descemos a lenha neles. Aproveitamos esses tempos pra lembrar o quanto eles são irresponsáveis, responsáveis somente pelo ruim que vemos. Os políticos, por sua vez, aproveitam pra dizer que a culpa de existirem políticos corruptos é do eleitor que os dão essa chance. No fim, todos somos culpados e todos somos vítimas. Por isso "mundo" pra falar de pessoas...

Poderia pôr aqui no final deste texto o que eu nunca deixo de colocar: a oposição. A oposição do pessimismo e das coisas ruins. Mas não vou fazer desta vez, não! Não preciso. Quando juntamos tudo que não presta, todo o mal, é possível ter uma lista enorme. Quase interminável. Mas que termina. A minha acaba quando lembro que é impossível fazer uma lista das coisas boas... as coisas pequenas, as coisas grandes, a Coisa... Por aí vai. Não dá pra ficar triste sendo eu tão teimoso. Não dá pra ver alguém triste sendo eu tão louco pra ver todo mundo ciente de que é feliz, pois vive e será eternamente feliz porque um Homem um dia nos deu essa certeza e todo os dias nos dá essa eternidade.

♫"Faça uma lista de grandes amigos... faça uma lista dos sonhos que tinha..."♫(A Lista - Oswaldo Montenegro) terá aí o final do meu texto. O final otimista do meu péssimo texto. O final que eu desejo nunca ter que escrever, pois é chato conscientizar as pessoas de coisas que já fazem morada em nossa consciência e em nosso coração - lugar onde a consciência nunca será capaz de chegar.

Piauisia...


Poethomem
É pouco o peito do homem
para o poeta guardar:
ele está como represa
quando vai arrebentar.

É pouco o peito do homem
para o rio que dentro dele
quer, sôfrego, navegar.

Mas o homem é necessário,
dele o poeta precisa:
um é unho - o outro é vário,
um voa - o outro pisa.

Raimundo José Portela de Carvalho (Moranno Portela)

3 de setembro de 2010

Hoje eu conversei com Deus no ônibus

E antes mesmo daquela conversa toda cair no esquecimento, antes até de começar a digerir o almoço desta sexta-feira, tratei de escrever sobre a a conversa. Não escrever a conversa, mas SOBRE a conversa.Todos os dias vejo Deus, todos os dias converso com Ele, todos os segundos da minha vida busco estar com Ele. Mas, desta vez, resolvi registrar a conversa. Não que ela tenha sido diferente das outras, pois essa foi do mesmo jeito: tão especial como sempre é. É que dessa vez a pessoa, que me foi Deus, foi inusitada (sem mais eloquência nos adjetivos).

"Ser diferente. Este é o desafio!" De todas as coisas que absorvi daquele momento, essa foi a que mais me tocou, pois aquele momento foi diferente
. Aquela viagem matutina, onde a aparente monotonia da rotina está no seu ponto mais alto, foi mais especial.
Sentei-me na poltrona (não acolchoada) do ônibus que a mais de 400 dias utilizo para ir de casa à escola, e vice e versa. Guardei meu passe verde na carteira ao tempo em que tirava da mochila um livro que acabara de tomar emprestado na biblioteca. Sentado e lendo, entrou no ônibus uma mulher, talvez senhora. Tinha uns 30 ou 40 anos com a sabedoria de uns 30 ou 40 (temos a mania de achar que uma pessoa mais nova, quando inteligente, tem sabedoria de mais velho. E não é assim. A sabedoria é, necessariamente, da idade de quem a busca. Não há idade sábia o bastante. Tenho 17 anos com a sabedoria de 17).

Comecei a ler as primeiras crônicas do livro (de Luis Fernando Verissimo, pra variar) cujo nome é "As comédias da vida privada" quando chegou ao meu lado a mulher que acabava de entrar na lotação. Vinha com uma daquelas pastas de couro com zíper, no balanço do ônibus, quase caindo. Pedi-lhe a pasta e a pus em cima de minha mochila que estava em minhas pernas. Devo confessar que com constrangimento, já que minha intenção era dar-lhe a cadeira, porém, meio que imóvel, fiquei sentado com os olhos no livro e com os livros e os braços em cima da pasta alheia. Respondi o "obrigada" da senhora e continuava a ler, enquanto continuava a viagem...

Depois de algumas curvas e ondulações das pistas de nossa cidade e depois de duas crônicas já lidas, a mulher me pediu licenç
a. Queria olhar o livro que eu lia. Achei aquilo um tanto inconveniente. Não a parte de ela querer saber qual livro eu lia, mas o fato de ela ter pedido licença e fechar o livro nas minhas mãos sem eu ter dado-lhe a licença. Mas tudo bem. Eu não ia sair nos tapas ali com aquela senhora. Só acho que era melhor ela nem ter pedido licença (assim como eu faço às vezes)...

Terminei a terceira crônica e um sorriso raso vasou do meu rosto. Foi quando a mulher perguntou:
-" Me permita lhe perguntar uma coisa... (mais uma vez sem eu permitir-lhe) Até que ponto essas comédias lhe ajuda?"
E lá foi
minha resposta, que, como não gosto nem um pingo de falar, não foi nada pequena.
Mas como eu escrevi no começo, não quero escrever a conversa, apenas sobre a conversa.

Me chamou a atenção a minha ignorância, arrogância, insensibilidade e ins
ipiência. Ignorância por ter hesitado em dar a cadeira àquela mulher. Arrogância por achar que aquela seria mais uma daquelas pessoas chatas; filósofa, professora, educadora ou psicóloga, que, como todos aqueles que perdem a humildade ao ganharem o pedaço de "papeldiploma", se acha a dona da razão e por isso eu deveria nem dar bola pra ela. Imbecilidade por achar que filósofos, professores, psicólogos, educadores, escritores, resumindo, os intelectuais se acham donos da razão. Insipiência por deixar essas coisas todas me chamarem atenção primeiro.

Que a primeira impressão é a que fica, há tempos julgo não ser verdade (a menos que sejamos sábios o bastante para fazermos de cada impressão a primeira) . Mas aquilo que deve chamar nossa atenção primeiro em uma pessoa é o último s
entimento que ela nos transmite. Por isso comecei o texto dizendo que conversei com Deus no ônibus.

"Até onde é saudável rir da desgraça do mundo e dos outros?". Essa foi uma das perguntas que, na razoável conversa, a mulher me fez. E ficou a reflexão...
Até onde o Luis Fernando Verissimo quer que eu ria e até onde ele quer que eu atente para as coisas que ele acha triste, decepcionante, estressante e torturante neste mundo em que essas coisas são, para muitos, triviais? Até onde o humor me faz rir e até onde o que me faz ri
r é a vida real e não o humor? Até onde rir é o melhor remédio e até onde rir é melhor do que chorar?... Por quê a gente deve não chorar quando todos parecem querer que soframos? Por quê não fazer o que todos querem que façamos e por que ser do jeito que todos querem que não sejamos? Por quê acordar de manhã e sentir-se cansado, estressado, abatido, às vezes até enlouquecido, quando é aí que a incompreensão, a destruição e a corrupção do homem querem nos levar? Por quê SE fazer essas perguntas quando essas não têm respostas se a buscarmos da forma que buscamos?

Se tantos intelectuais e escritores que leio fossem realmente irônicos (no sentido destrutivo da coisa) e se achassem os donos da razão, como vejo os julgarem ser e se eles realmente não fossem preocupados com a sociedade, eles não seriam tão genero
sos e altruístas ao nos dar o seu testemunho, suas experiências e o que de bom ou mau podemos tirar delas.

Se for como Fernando P
essoa diz e a morte for só uma curva da estrada, nossa vida é uma BR: cheia de buracos, de altos e baixos, cheia de acidentes... E o inferno e o céu já começam aqui. O inferno na crueldade, na maldade, no egoísmo, na competição humana e em tudo aquilo que faz o próprio homem ser a personificação do mal. O céu na natureza divina do homem, na bondade, na vontade de ser sempre exemplo, na gratuidade, na fé, na paciência, na esperança de um mundo melhor e no amor que é a própria vida.

É o amor que me faz viver. Meu combustível é a honestidade e a sensação de que nada é capaz de abalar os muros do coração, quando ele é alicerçado no gigantesco universo do amor.É a felicidade de amar que me faz querer perpetuar minha existência, como foi o amor que fez Jesus vencer a morte. Falta agora nós vencermos a morte em que não precisamos parar de respirar para estar nela. Falta dar mais valor ao que a vida n
os dá de maravilhoso, pra poder resistir a essa tortura que não derrama nosso sangue...

É só o amor que me faz viver no otimismo, no bom humor, na certeza de que não virão dias melhores, pois melhor do que o que já estamos é impossível. O que virá do futuro é uma percepção mais humana e menos imbecil das coisas em
nossa volta. Só o amor me faz viver. O amor que é vida, o amor que é tudo, o amor que é o que faz eu ver Deus em todos. Ele que me ama como eu não posso amá-lo, Ele que é o que eu só posso ser a imagem, Ele que é pra quem eu vivo, Ele que é por quem eu amo.

1 de setembro de 2010

Enquanto o Flamengo perde de um a zero...


Resolvi fazer o log in no meu blog pra escrever sobre algo que andei pensando ao olhar pela janela do ônibus, nas idas descompromissadas à geladeira, nos pensamentos infinitos que me vêm à mente quando estou tocando violão sem prestar atenção no que estou tocando... Por que dizem, escrevem, mostram e/ou pensam que ninguém é perfeito?
Essa é uma negação boa. Inclui até a pessoa que, pelo jeito, detestava até a si próprio. É tão perfeita quanto aquela regra que diz que toda regra tem excessão. Gosto muito dela. É uma regra tão boa que se inclui, assim como essa.

Voltando pra negação da perfeição humana... Me intriga bastante saber que dizemos ou pensamos isso como quem diz ou quem pensa que as pesquisas de popularidade do atual "presidente" do Brasil revelam uma situação real. É constrangedor ouvir dizer que o Lula, como ouvi dizer Jorge Kajuru, é mais aprovado que Jesus Cristo.

Quando alguém diz que este alguém, ou que qualquer outro alguém, não pode ser perfeito está provando algo que sempre suponho: as pessoas conhecem a si mesmas cada vez menos.
Se eu dissesse que eu sou perfeito eu seria, de duas uma: ou iludido, ou convencido. Mas se eu vejo alguém falar de si próprio julgando não ser perfeito, fico triste e chateado... mas fico satisfeito, pois é com a humildade de considerar-se imperfeito que o alguém em questão se torna mais perfeito...

Todos somos seres humanos, filhos de seres humanos, amados por seres humanos, influenciados e admirados por seres humanos. Todos seres humanos que são a imagem e semelhança daquele que nos faz ser tão perfeitos que não conseguimos ver a nossa própria perfeição.

Temos coração, temos cérebro, temos olhos, ouvidos, boca, cabelos, mãos, braços... Podemos amar, pensar, chorar, ouvir ou cantar música, sorrir, beijar, acariciar, abraçar... Como podemos não ser perfeitos se somos capazes de alegrarmo-nos com coisas pequenas e de alegrar os outros com coisas tão grandes como a própria vida que doamos para esses outros? Como é possível você achar que não é perfeito se tem tanta gente que discorda de você? Como pode uma pessoa dizer que não é perfeita se ela é ela mesma e se ela é tão amada, tão querida e se é tão festejada sua existência?

Não somos nós quem nos fazemos perfeitos, é aquilo que somos para os outros. A nossa perfeição está no outro. Está naqueles que amamos e naqueles que nos amam. Nossa perfeição é poder ver-se a si próprio em quem está na nossa frente e ver nesses (no que está na nossa frente e em si próprio) o amor, a felicidade, o tudo, o eterno e o perfeito da nossa vida: Deus.

E por mais que meu time não esteja ganhando, não deixo de torcer por ele. A derrota também faz parte da construção da perfeição. Um time só é perfeito quando ele conhece todas as situações possíveis de se encontrar num jogo (risos, muitos risos!).


Jamais fecharia os meus olhos e não veria a perfeição, pois sempre que fecho os olhos vem a mim a minha vida, tudo que eu amo e as coisas e pessoas que, com sua perfeição, fazem minha vida mais perfeita.


Eu sou perfeito porque amo. Eu amo porque o que eu amo é perfeito.